Breaking News

Golpe de Estado em Madagáscar: militares se unem a manifestantes e abalam governo

 

Antananarivo, 12 de outubro de 2025 — Uma onda de protestos populares em Madagáscar ganhou um desdobramento dramático neste fim de semana, quando parte das forças armadas decidiu romper com o governo e alinhar-se aos manifestantes. O episódio foi considerado por muitos como um golpe de Estado de fato, embora os detalhes ainda estejam se desenhando e as tensões permaneçam elevadas.

Antecedentes: da insatisfação social ao levante

As manifestações tiveram início no dia 25 de setembro, motivadas por cortes constantes de energia elétrica e falta de água em diversas regiões da capital, Antananarivo, e outras cidades. O movimento, majoritariamente liderado por jovens — muitas vezes identificados como “Gen Z Madagascar” — rapidamente ganhou forças, incorporando críticas mais amplas ao governo, corrupção, desigualdade e à má prestação de serviços básicos. 

O governo, sob pressão crescente, tentou algumas medidas para apaziguar os ânimos: primeiro, demitiu o gabinete em exercício; depois, nomeou o general Ruphin Fortunat Zafisambo como primeiro-ministro. Ainda assim, as manifestações continuaram — e se intensificaram após o uso de gás lacrimogêneo, granadas de efeito moral e confronto com a polícia. 

Em 25 de setembro, já havia sido decretado toque de recolher noturno em Antananarivo — das 19h às 5h — como tentativa de conter os protestos violentos. Apesar disso, manifestações continuaram e se alastraram. 

O ponto de inflexão: militares rompem com o governo

No sábado (11 de outubro), um dos momentos cruciais ocorreu: integrantes da unidade militar CAPSAT (contingente administrativo e técnico) declararam sua adesão aos manifestantes. Eles afirmaram que não obedeceriam ordens para reprimir civis e convocaram que outros soldados fizessem o mesmo. Em vídeo divulgado nas redes sociais, instruíram soldados a “não obedecer ordens para atirar contra nossos irmãos” e a favorecer a população. 

Sob esse apoio militar, multidões entraram no May 13 Square, praça simbólica de atos políticos em Antananarivo, até então bloqueada pelas forças de segurança. A presença dos soldados fez com que a polícia recuasse, com uso limitado de gás lacrimogêneo e outros meios de dispersão. 

No dia seguinte, a presidência reagiu, alegando que um “sequestro ilegal de poder” estava em curso. Autoridades afirmaram que as tropas da CAPSAT estavam assumindo o controle de comandos militares e que todas as ordens passariam a se originar daquele quartel-general. 

Reações institucionais e cenário político

O primeiro-ministro, escolhido pelo presidente, fez apelos pela calma e se colocou à disposição para abertura de diálogo com todas as partes — jovens, sindicatos e militares. Já o presidente Andry Rajoelina, ainda residente em Madagascar, condenou a ação como tentativa de golpe e convocou a união em defesa da ordem constitucional. 

Organismos internacionais estão monitorando com preocupação — a União Africana manifestou-se pedindo contenção e diálogo.

Até o momento, ainda não há confirmação de que Rajoelina tenha deixado a capital ou sido deposto formalmente, embora rumores apontem para sua saída temporária de Antananarivo. 

Comparação histórica: ecos de 2009

O episódio atual recorda os eventos de 2009, quando parte das Forças Armadas invadiu o acampamento CAPSAT e ajudou a derrubar o então presidente Marc Ravalomanana, colocando Andry Rajoelina no poder. Essa intervenção militar foi vista por muitos como um golpe de Estado e gerou grande instabilidade política. O paralelismo com a atual situação reforça os riscos quando instituições militares se inserem diretamente no tabuleiro político.

Desafios e incertezas no horizonte

Embora alguns considerem que se trata de um golpe efetivo, o cenário é fluido e incerto. Alguns dos principais pontos de atenção:

Quem realmente controla o aparelho estatal? Ainda é indeciso se o presidente mantém autoridade formal ou se o poder de fato migrou para os militares dissidentes.

Risco de escalada violenta. Confrontos podem ressurgir caso outras unidades militares ou forças leais ao governo tentem retomar o controle.

Negociações e transição. O apelo ao diálogo é forte, mas resta saber quem participará efetivamente e sob que condições.

Legitimidade popular. Os manifestantes exigem não apenas a saída de Rajoelina, mas reformas profundas— dissolução do Senado, da comissão eleitoral e uma nova constituição. 

Consequências regionais. O golpe em Madagáscar pode estimular instabilidade em nações africanas vulneráveis à intervenção militar.

O que começou como protestos por serviços básicos se transformou em uma crise institucional com potencial para redesenhar o poder em Madagáscar. A adesão militar à causa dos manifestantes marca um divisor de águas, num momento em que a posição de Rajoelina parece cada vez mais fragilizada. A vigilância é necessária: a contenda está longe de um desfecho definido.

0 Comentários

📲 Baixe o App Oficial!

Tenha acesso rápido às notícias mais importantes de Moçambique e do mundo diretamente no seu telemóvel.

🔽 Baixar Agora

Advertisement

Type and hit Enter to search

Close